Esboço: Os Dois Advogados – Análise do ultimo discurso de Jesus

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Quando imaginamos a última noite de Jesus com os discípulos, em geral pensamos na Última Ceia, no cenáculo em que celebraram a Páscoa. Embora Mateus, Marcos e Lucas nos contém muita coisa sobre a Ceia, o Evangelho de João nem menciona o partir do pão ou o vinho sendo bebido — não fala nada sobre essa refeição. Todavia, João nos dá mais informações do que qualquer outra pessoa sobre o que aconteceu ali aquela noite. Ele nos apresenta o que tem sido chamado de Discurso de Despedida de Jesus, uma fala longa, de três capítulos, seguida por uma oração majestosa que toma mais um capítulo.

Dica: Que tal ler e comparar a última ceia nos 4 evangelhos?

Ora, a pessoa prestes a morrer não fica cheia de rodeios nem saindo pela tangente. Ela diz as coisas que lhe parecem mais urgentes e mais importantes para seus ouvintes. Sabendo disso, deveríamos dar grande peso ao tema principal de Jesus nessa passagem. Embora ele toque em vários assuntos e tópicos, parece haver um tema predominante a lhe pesar no coração pouco antes de sua morte.

Qual é o assunto principal?

Ao longo dos três anos anteriores, os apóstolos tinham vivido um encontro pessoal e contínuo com Jesus Cristo. Conviveram e trabalharam com ele, conversaram e oraram com ele. Mas agora ele anunciava: “Filhinhos, estarei convosco apenas mais um pouco […] Para onde vou, não podeis ir” (Jo 13.33).

João 13.33-35
³³ Meus filhos, estarei com vocês apenas mais um pouco. E, como eu disse aos líderes judeus, vocês me procurarão, mas não poderão ir para onde eu vou.
³⁴ Por isso, agora eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros.
³⁵ Seu amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos”. 


Ora, se você leu o relato completo da vida e ministério de Jesus em companhia desses homens, sabe o quanto essas declarações são difíceis. Pedro não tem o menor conhecimento de si mesmo. “… Darás a vida por mim?…”, Jesus lhe pergunta (13.38). Mais do que isso, apesar do ensino constante de Jesus de que ele devia morrer pelos pecados do povo, a ideia simplesmente não lhes entrava na cabeça. Com tristeza, Jesus questiona: “… há tanto tempo estou convosco e ainda não me conheces?…” (14.9). Uma pergunta cortante que revela um fato terrível. Depois de tanto tempo e atenção, Jesus afirma: “Vocês realmente não me conhecem. Não tiveram o encontro profundo e pessoal comigo de que necessitam”. Os apóstolos compreendem pouco o próprio coração, ou, pior ainda, o coração e os propósitos de Jesus. Portanto, a situação é calamitosa (aos nossos olhos). Tratam-se dos agentes de Jesus, escolhidos a dedo para transmitir sua mensagem ao mundo. Contudo, eles não o conhecem de verdade, e no dia seguinte Jesus morrerá!

Jesus fala aqui de várias coisas marcantes. Fala da vinda do Espírito de Deus para os discípulos, e qualquer um que já tenha lido as Escrituras hebraicas sabe que o Espírito de Deus é uma força no mundo que procede do Pai. Mas Jesus se refere ao Espírito de determinadas maneiras que devem ter sido extraordinárias para eles. Primeiro, ele diz que o Espírito não é uma simples força, mas uma pessoa. Em grego, um gênero é designado aos substantivos — masculino, feminino ou neutro —, sendo que a palavra grega para “espírito” é neutra. No entanto, Jesus fala do Espírito como “ele”, mostrando que não está se referindo a uma energia divina nebulosa. Anuncia que, depois de sua partida — depois que morrer —, o Pai enviará uma pessoa em seu lugar. Segundo, Jesus afirma que irá embora e essa pessoa chegará. “… Se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, eu o enviarei” (Jo 16.7)

João 16.5-15 A obra do Espírito Santo
⁵ “Agora, porém, vou para aquele que me enviou, e nenhum de vocês me pergunta para onde vou.
⁶ Em vez disso, entristecem-se por causa do que eu lhes disse.
⁷ Mas, na verdade, é melhor para vocês que eu vá, pois, se eu não for, o Encorajador não virá. Se eu for, eu o enviarei a vocês.
⁸ Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
⁹ Do pecado, porque o mundo se recusou a crer em mim;
¹⁰ da justiça, porque eu voltarei para o Pai e não me verão mais;
¹¹ do juízo, porque o governante deste mundo já foi condenado.
¹² “Há tanta coisa que ainda quero lhes dizer, mas vocês não podem suportar agora.
¹³ Quando vier o Espírito da verdade, ele os conduzirá a toda a verdade. Não falará por si mesmo, mas lhes dirá o que ouviu e lhes anunciará o que ainda está para acontecer.
¹⁴ Ele me glorificará porque lhes contará tudo que receber de mim.
¹⁵ Tudo que pertence ao Pai é meu; por isso eu disse: ‘O Espírito lhes contará tudo que receber de mim’.” 

João 14:17
¹⁷ É o Espírito da verdade. O mundo não o pode receber, pois não o vê e não o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele habita com vocês agora e depois estará em vocês. 

João 14:26
²⁶ Mas quando o Pai enviar o Encorajador, o Espírito Santo, como meu representante, ele lhes ensinará todas as coisas e os fará lembrar tudo que eu lhes disse. 

A palavra grega “Parakletos” tem diversos significados e é traduzida de diferentes formas em português, dependendo do contexto. Em João 14:26, por exemplo, é comumente traduzida como “Consolador” ou “Ajudador”, referindo-se ao Espírito Santo. “Parakletos” pode significar alguém que é chamado para estar ao lado de outro, um consolador, um advogado, um intercessor, ou alguém que exorta e ajuda. O termo é rico em significado e reflete a multifacetada obra do Espírito Santo na vida dos crentes.

Sim, em João 14:16, 14:26 e 15:26, todas essas passagens usam a palavra grega “Παράκλητον” (Parakleton), que é traduzida de diferentes formas em português, como “Consolador”, “Ajudador” ou “Advogado”, dependendo da tradução da Bíblia. Esses versículos se referem ao Espírito Santo como o “Parakleton”, descrevendo seu papel de consolar, ajudar, interceder e advogar em favor dos crentes.

A palavra grega “Παράκλητον” (Parakleton), que é traduzida como “Advogado” em 1 João 2:1 na Almeida Revista e Atualizada (ARA), aparece outras três vezes no Novo Testamento, todas no Evangelho de João:

João 14:16: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.”

João 14:26: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”

João 15:26: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.”

Se a Bíblia está errada e Deus não existe, se não existe tribunal nenhum, e a violência e a injustiça são simplesmente naturais, então que esperança há para o mundo? Contudo, se existe um tribunal, que esperança há para você e para mim? Ninguém vive à altura nem mesmo dos próprios padrões morais, muito menos dos divinos

A segunda é que o papel primordial de Jesus Cristo não é ser um exemplo de comportamento moral (embora ele seja), nem de apoio amoroso (embora ele também o seja). Ainda que úteis, essas funções isoladas não supririam nossa necessidade. Se o tribunal existe — e nossa consciência dá testemunho de que existe —, então precisamos de um advogado perfeito.

Há um entendimento de que, perante o juiz, seu advogado de defesa é você. Como o teólogo Charles Hodge disse uma vez, na corte você desaparece em seu advogado

Se você gaguejar, mas seu advogado for eloquente, como a corte o verá? Como alguém eloquente. Se você for ignorante, mas seu advogado, brilhante, que impressão você causará na corte? De que é brilhante. Em alguns casos, talvez não lhe peçam para falar ou nem mesmo comparecer pessoalmente ao tribunal. Seu advogado tomará o seu lugar, como um substituto. Portanto, que impressão você causa na corte? A impressão deixada por seu advogado, seja ela qual for. Se ele vencer, você vence. Se perder, você perde. Resumindo, você se perde nele, passa a estar em seu advogado.

1 João 2.1
1 Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo

Ele afirma que, se você for considerado culpado no tribunal e até por sua consciência, do que necessitará? De um bom exemplo? De alguém que o ajude e lhe ofereça apoio? Que lhe mostre como reunir forças e se esforçar ainda mais? Que o acompanhe e diga “Você consegue!”? Alguém que conheça a lei e lhe mostre como você a infringiu? Sim, você precisará de tudo isso, mas nada disso constituirá sua principal necessidade. Você não precisará só de um bom advogado, mas de um Advogado perfeito, que compareça em seu lugar diante do Pai.

Se somos acusados no tribunal, não precisamos só de um advogado eloquente e inteligente, mas de um profissional que saiba compor nossa causa para defendê-la.

1 João 2.2
2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.

1 João 1.9
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.

Note que o texto não está dizendo que, se os cristãos confessarem seus pecados, Deus os perdoará por lhes conceder mais uma chance em outro ato de misericórdia. Não, o que o texto diz é que ele perdoa por ser fiel e justo. Não nos perdoar seria injusto. Como é possível uma coisa dessas? A melhor maneira de conseguir a absolvição para seu cliente não é acalentar a esperança de conquistar a simpatia do júri, e sim mostrar que seu cliente deve ser absolvido pela lei.

Jesus faz essa defesa! Ele pode dizer: “Pai, meu povo pecou, e a lei requer que o salário do pecado seja a morte. Acontece que eu paguei por esses pecados

1 Coríntios 5.21
21 Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.

Isso significa que, assim como Jesus não praticou o pecado, mas foi tratado como pecador e punido na cruz, agora nós, os que nele cremos, embora não sejamos justos e perfeitos, somos tratados como justos, belos e perfeitos pelo Pai, por causa de Jesus. Portanto, qual a função do primeiro Advogado? É dizer para o Pai: “Veja o que fiz. Agora, aceite-os em mim”.

Então qual a função do outro Advogado, a quem Jesus promete nos enviar, o Espírito Santo? Lembre-se de que jamais entenderemos a obra do segundo Advogado se não compreendermos a obra do primeiro

João 14.26
26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

O teólogo J. I. Packer [quem é?] explica que o ministério do Espírito Santo é muito parecido com o de um holofote. Ao passar por um prédio à noite, se ele estiver iluminado por um holofote, você dirá: “Veja que belo prédio”. Talvez nem perceba de onde está vindo a luz. O trabalho do holofote não é se mostrar a você, mas revelar a beleza do prédio, deixar todas as suas características arquitetônicas em evidência

João 16.7-14
7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei.
8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.
9 Do pecado, porque não crêem em mim;
10 Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
11 E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.
12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13 Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.

Você é um pecador; está vivendo com a humildade e com a dependência de Deus resultantes desse fato? No entanto, você também é justo em Cristo, adotado e aceito na família. Está vivendo com a ousadia e a liberdade compatíveis com esse fato? Você é tão livre da necessidade de poder, aprovação e conforto mundanos quanto deveria?”.

João 14.21
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.

Por exemplo, é natural para nós acharmos que seria melhor ter vivido na época de Cristo, conhecê-lo em pessoa, ouvi-lo com nossos próprios ouvidos e vê-lo com nossos próprios olhos. Talvez você creia que poderia conhecê-lo melhor dessa maneira do que o conhece agora — mas, nesse caso, você está enganado. Antes de Jesus morrer, o Espírito Santo não fora liberado no mundo desse modo poderoso, e só se pode conhecer Jesus plenamente através da influência do Espírito, quando ele lhe mostra, à sombra da cruz, o quanto o seu amor por nós é alto, longo, amplo e profundo. Em outras palavras, bem aqui e agora, mediante o Espírito Santo, você consegue ver Cristo e conhecer sua presença e seu amor melhor do que os apóstolos naquele momento no cenáculo.

Imagine-se um bilionário com três notas de dez dólares na carteira. Ao descer de um táxi, você entrega ao motorista uma das notas para pagar a corrida que custou oito dólares. Mais tarde, no mesmo dia, você olha na carteira e descobre que só resta uma nota de dez ali. “Ou deixei cair a outra nota de dez em algum lugar”, você conclui, “ou entreguei duas notas ao motorista do táxi”; Que atitude tomar agora? Você vai se sentir chateado? O ocorrido estragará o restante do seu dia? Você pensa em procurar a polícia e exigir que varram a cidade atrás do taxista? Não. Você dará de ombros. É bilionário. Foram-se dez dólares. E daí? E rico demais para se preocupar com esse tipo de perda. Alguém o criticou esta semana. Algo que comprou ou em que investiu acabou revelando ter menos valor do que você imaginava. Algo que queria não aconteceu como esperava. Alguém com quem contava o deixou na mão. São perdas reais: de reputação, de riqueza material, de esperanças. Mas, se for cristão, o que você fará? Esses reveses conseguirão acabar com a alegria da sua vida? Você apontará o punho cerrado para Deus? Passará a noite inteira rolando na cama?

João 14.27
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.

Sem a obra do Espírito você não pode conhecer Jesus ou conhecer sua paz

João 17.13-21
13 “Agora vou para tua presença. Enquanto ainda estou no mundo, digo estas coisas para que eles tenham minha plena alegria em si mesmos. 
14 Eu lhes dei tua palavra. E o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como eu também não sou. 
15 Não peço que os tires do mundo, mas que os protejas do maligno. 
16 Eles não são deste mundo, como eu também não sou. 
17 Consagra-os na verdade, que é a tua palavra. 
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, eu os envio ao mundo. 
19 E eu me entrego como sacrifício santo por eles, para que sejam consagrados na verdade.
20 “Não te peço apenas por estes discípulos, mas também por todos que crerão em mim por meio da mensagem deles. 
21 Minha oração é que todos eles sejam um, como nós somos um, como tu estás em mim, Pai, e eu estou em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.

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