Chegamos à última parte de nosso estudo: A união das naturezas divina e humana de Jesus.
3. A união das duas naturezas
Nossa doutrina afirma que Jesus era, e é, plenamente Deus e plenamente homem. Essas duas naturezas não transformam Jesus em duas pessoas e, sim, numa pessoa com duas naturezas.
Estudamos isoladamente passagens que provam tanto a humanidade quanto a divindade de Cristo. Agora precisamos estudar algumas passagens que nos dão indicação das duas naturezas atuando juntas em uma única pessoa.
A primeira passagem é João 17.21-22. Nesse texto, o homem Jesus declara ser um só com o Pai. A referência nada declara sobre a humanidade de Jesus, mas o fato Dele mesmo declarar Sua divindade mostra que tinha o entendimento de que, mesmo sendo homem, possuía uma natureza em comum com o Pai, ou seja, a natureza divina.
Para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: João 17:21,22
Outros dois textos são importantes para nosso estudo (Jo 3.13 e 1Tm 3.16). Em João temos o uso do termo Filho do Homem (humanidade de Cristo) com a referência sobre ter descido do céu (divindade). Em Timóteo encontramos uma referência a Cristo no céu antes de Sua encarnação (contemplado por anjos – divindade), Sua encarnação como homem (manifestado na carne – humanidade) e depois na Sua ressurreição e ascensão aos céus (recebido na glória – divindade e humanidade). Os dois textos sugerem harmonia e plenitude das duas naturezas. Nem esses e nem outros textos bíblicos sugerem revezamento, contradição ou mesmo luta entre elas.
Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do homem. João 3:13
Não há dúvida de que é grande o mistério da piedade: Deus foi manifestado em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na glória. 1 Timóteo 3:16
Na história da igreja, teólogos e intérpretes das Escrituras têm tentado propor soluções. Algumas delas boas, mas outras se tornaram desvios da doutrina bíblica de Cristo. O assunto é complexo, pois as duas naturezas têm características completamente opostas. Veja um resumo rápido de algumas delas.
Ebionistas – Séc II – Jesus era um homem notável com dons muito especiais.
os Ebionitas criam que é necessário obedecer a todos os mandamentos da Lei de Moisés, inclusive ao mandamento de fazer a circuncisão; que os gentios que se convertem a Deus devem fazer a circuncisão e devem obedecer a todos os mandamentos da Lei; que Jesus Cristo é o Messias, mas não é Deus; que Ele não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado por José; que Paulo de Tarso foi um apóstata da Lei e não foi um verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo; que as Escrituras Sagradas são somente o Antigo Testamento, e que eles usavam um único evangelho (chamado de Evangelho dos Ebionitas), que era considerado como sendo o Evangelho segundo Mateus, escrito em hebraico, e era menor do que o Evangelho segundo Mateus em grego e canônico, que é usado pelos cristãos.
Docetistas – Jesus era Deus e parecia humano
Docetismo (gr. dokein, “aparentar”) é uma heresia do final do século I que afirmava que Jesus apenas aparentava ser humano.
O docetismo é: a afirmação de que o corpo humano de Cristo era um fantasma e de que seus sofrimentos e morte foram meras aparências. “Se sofreu, não era Deus; se era Deus, não sofreu.”
Negavam a humanidade de Cristo, mas afirmavam a divindade. O docetismo já estava presente no final da época do NT, como é evidente pela exortação de João, o apóstolo, sobre aqueles que negam “que Jesus Cristo veio em carne” (1Jo 4.2; cf. 2Jo 1.7)
Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; 1 João 4:2
De fato, muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em corpo. Tal é o enganador e o anticristo. 2 João 1:7
Gnósticos – Jesus e Cristo eram duas pessoas diferentes. Jesus era homem filho de Maria; Cristo era um espírito que veio sobre Jesus no batismo e O abandonou na crucificação.
O nome de “gnóstico” vem da palavra grega “gnosis” que significa conhecimento; gnóstico é, portanto, quem adquire um especial conhecimento e vive segundo esse conhecimento. O termo “gnose” não tem, portanto, um sentido pejorativo. Alguns Santos Padres como Clemente de Alexandria e São Irineu falam da “gnose” no sentido do conhecimento de Jesus Cristo obtido pela fé: “a verdadeira gnose – escreve Santo Irineu – é a doutrina dos Apóstolos” (Adversus Haereses,IV, 33).
O termo “gnóstico” adquiriu sentido pejorativo quando foi aplicado pelos mesmos Padres a certos hereges que tiveram notável relevo entre os séculos II e IV. O primeiro em designá-los assim foi são Irineu, que vê a sua origem na heresia de Simão o samaritano (Atos 9, 9-24), e diz que os seguidores desse herege se propagaram pela Alexandria, Ásia Menor e Roma dando lugar a “uma multidão de gnósticos que emergem do solo como se fossem fungos” (Adversus Haereses,I, 29.1). Deles, continua dizendo são Irineu, procedem os valencianos, que são os que ele combate diretamente. Explica tal abundância e diversidade de seitas dizendo que “a maioria de seus seguidores – na realidade, todos querem ser mestres – se vão da seita que abraçaram, e elaboram um ensinamento a partir de uma outra doutrina, e depois a partir desta surge ainda outra, mas todos insistem em ser originais e em haver achado por si mesmos as doutrinas que de fato se limitaram a compaginar” (Adversus Haereses,I, 28.1).
Arianos – 280 d.C. – Jesus é a criação mais importante.
O arianismo foi uma das maiores heresias do período da chamada Alta Idade Média, isto é, o período de transição entre queda do Império Romano e a formação da Cristandade Ocidental, que se deu de meados do século IV d. C a meados do século X d. C. Essa heresia (heresia vem do grego hairésis, e significa escolha) foi assim denominada por derivar-se do nome de Ário, ou Arius, presbítero de Alexandria, no Egito. Foi combatida por sábios da Igreja Cristã Primitiva, como Santo Atanásio.
A heresia de Ário se enquadra, segundo a ortodoxia da Igreja, no campo da cristologia, sobretudo no que tange ao entendimento teológico que se tem da Trindade Santa. A cristologia é um ramo da teologia que se dedica a pensar a natureza de Cristo. Para a ortodoxia da Igreja Católica (herdeira do cristianismo primitivo), Cristo partilha da substância do Deus Pai, Criador – Uma das pessoas da Trindade, sendo o Espírito Santo a terceira. Portanto, ao tempo que se fez homem, encarnado, Cristo também era coeterno a Deus e, consequentemente, o próprio Deus.
Ário se contrapôs a essa perspectiva ortodoxa, argumentando que Cristo não partilhava da mesma substância de Deus, mas foi criado por Deus, assim como todas as outras criaturas e o homem. Isso supunha a não eternidade de Cristo e a não encarnação do logos (o verbo divino) no Filho. Ário, que possuía uma formação intelectual respeitável e ocupava o posto de presbítero em Alexandria (o centro intelectual da Ásia Menor à época), conseguiu vários adeptos. Entretanto, o primeiro a confrontá-lo diretamente e a defender a concepção ortodoxa foi Alexandre, Bispo de Alexandria.
Eutiquianos ou Monofismo – Jesus era só Deus e não humano.
A luta contra o Nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é o monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”). O primeiro arauto desta tese foi Eutiques de Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza divina e da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em Jesus: a divina.
Conclusão
Grudem, em seu livro Teologia Sistemática, cria uma breve frase que nos ajuda a sintetizar o que estudamos nesta lição: “Permanecendo o que era, tornou-se o que não era”. Eternamente Deus quando Se encarnou, Jesus continuou sendo Deus e Se tornou humano. Ele era verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
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